O pedido de IPO da Havan chamou a atenção do mercado nos últimos meses… Com objetivo de captar bilhões e se tornar uma das empresas mais valiosas de seu setor, a Havan bem que tentou, mas não conseguiu emplacar sua abertura de capital na B3 dessa vez. 

O pedido do IPO da empresa realmente movimentou o mercado… 

Os investidores estavam interessados em comprar ações da empresa que cresceu fortemente nos últimos anos… 

Para você ter uma ideia, entre 2017 e 2019, a companhia expandiu em 32% de sua rede de pontos de venda, atingindo 147 unidades físicas. 

Diante disso, não há como não questionar: o que será que fez os assessores financeiros do Luciano Gang, dono da Havan, aconselharem o empresário a suspender IPO?

É o que vamos explicar ao longo deste artigo… 

Antes, para contextualizar, vamos apresentar como foi o pedido de abertura de capital da Havan na B3. Acompanhe.  

Havan/Divulgação/JC

O pedido de IPO das Lojas Havan

Em agosto, a Havan protocolou junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o prospecto preliminar de sua oferta pública inicial de ações (IPO, sigla em inglês).

No caso, a oferta do IPO da Havan seria para ser primária e secundária. E contava com o coordenador líder da operação o Itaú BBA, além da participação da XP Investimentos, BTG Pactual, Morgan Stanley, Bank of America, Bradesco BBI, Safra e Santander.

Assim, em um ano como o de 2020, em que há uma grande quantidade de IPOs acontecendo (Grupo Soma, Petz, Wine, por exemplo), o pedido pelo IPO por parte da Havan em si não foi o que mais chamou a atenção…

Mas sim os supostos valores envolvidos em todo o processo.  

Vamos explicar:

Desde o início, foi debatido no mercado que a Havan estaria em busca da captação de R$ 10 bilhões com o seu IPO. E, se essa quantia realmente fosse confirmada, a companhia poderia ser avaliada em cerca de R$ 100 bilhões…

Isto é, um preço de mercado bem elevado, maior do que grande parte das varejistas que estão listadas na B3… 

As gigantes do varejo – que se fortaleceram muito na crise -, hoje, apresentam os seguintes valores de mercado:

  • B2W: R$ 60,8 bilhões;
  • Lojas Americanas: R$ 58,3 bilhões;
  • Carrefour: R$ 39,2 bilhões;
  • Raia Drogasil: R$ 35,5 bilhões;
  • Renner: R$ 34,6 bilhões;
  • Via Varejo: R$ 32,2 bilhões;
  • Grupo Pão de Açúcar: R$ 17,5 bilhões.

A única empresa que, supostamente, a Havan não teria um valor superior é a Magazine Luiza, que vale R$ 153 bilhões, de acordo com a consultoria Economatica.

Dessa forma ,se realmente a Havan fosse avaliada em R$ 100 bilhões, essa quantia seria equivalente a um múltiplo de 130 vezes o lucro líquido de 756 milhões de reais registrados em 2019 pela empresa.

Sendo assim, não teve jeito: é claro que a quantia chamou a atenção e todo o mercado voltou os olhos para o IPO da Havan… 

Contudo, o que ninguém esperava era que o cenário supostamente animador fosse mudar tão rápido…

Havan desiste do IPO: Fraca Operação Digital Não Atraiu Investidores

Muitos investidores demonstraram interesse na operação, mas julgaram a avaliação pretendida alta demais… 

A verdade é que depois da publicação do prospecto de seu IPO, a Havan passou a ser muito questionada por não estar no padrão das outras empresas que também abriram capital na B3 nos últimos meses…

Isto é, por não apresentar uma forte operação digital

E não ter uma boa atuação no Ecommerce, em se tratando de IPO, é uma grande questão… 

Atualmente, os investidores estão oferecendo múltiplos apenas para as companhias que já estão avançadas em estratégias tecnológicas, com um bom desempenho nessa área. 

Não é o caso da Havan.

Para exemplificar isso melhor, vamos trazer essa conversa para os números…

A Havan, no ano passado, apresentou uma receita líquida de R$ 7,9 bilhões. As vendas no Ecommerce da companhia, entretanto, representaram apenas R$ 77 milhões desse total.  

Ou seja, um valor bem pouco expressivo… Principalmente quando se analisa todo o potencial de vendas online das empresas que também fizeram IPO este ano. 

Sendo assim, a baixa adesão e adaptação ao comércio eletrônico foi um fator crucial para especialistas questionarem o IPO da havan. 

Contudo, este não foi o único motivo que levou ao fim a tentativa de abertura de capital da empresa…

Postura do Dono da Havan também foi um Problema

Luciano Hang, dono da Havan, é uma figura polêmica. As controvérsias são tantas, que o próprio empresário foi citado na seção “fatores de risco” do prospecto, da seguinte maneira:

“Nosso presidente e acionista controlador já foi e é parte em processos relativos a condutas supostamente inapropriadas, e/ou ofensivas, inclusive decorrentes de sua opinião pessoal nas redes sociais, sendo que alguns tiveram ou podem ainda ter potenciais desdobramentos na esfera criminal.” 

Além disso, o documento dizia que, em caso de decisões desfavoráveis, a reputação da companhia poderá ser afetada de maneira adversa, o que pode gerar efeito negativo sobre negócios e resultados operacionais…

Ou seja, a companhia não poderia assegurar que novos inquéritos ou ações envolvendo Luciano Hang não possam surgir no futuro.

Apesar disso, no mesmo prospecto, Hang é citado um fator decisivo para o sucesso da empresa, com atitude de dono e agilidade na tomada de decisão

“A forte presença e atuação de nosso fundador garante a nós uma série de diferenciais, dentre eles: (i) direção ágil na definição de estratégias e tomada de decisões; (ii) direção acessível e presente no cotidiano da companhia (…)”

Resumo da história?

A tentativa não deu certo. Essa percepção positiva do empresário exposta no documento não prevaleceu entre os potenciais investidores…

E a verdade é que Luciano Hand, por muitas vezes, se meteu em situações bem polêmicas…

Empresário é investigado pelo STF

Entre as situações complicadas que o empresário já se envolveu, a que mais vem chamando atenção nos últimos anos é a investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por disseminação de fake news

Além disso, também enfrentou problemas com o Ministério do Trabalho, por tentativa de coação dos funcionários durante a eleição do presidente Jair Bolsonaro. 

Fora isso, em 2003, Hang foi condenado a três anos, 11 meses e 15 dias de pena privativa de liberdade, mais uma multa por ter sonegado R$ 10,4 milhões de reais em contribuições…

Na época, a punição foi substituída por prestação de serviços comunitários e pagamento de dez salários mínimos mensais durante o período da condenação. 

Diante disso tudo, não teve jeito: é óbvio que o IPO da empresa seria afetado por essas questões. 

Em meio a tudo isso, a empresa se pronunciou…

A Posição da Havan

De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg, a Havan não precisa de dinheiro imediatamente e pode esperar até que as condições de mercado melhorem. 

E a decisão pela suspensão do IPO foi por causa da turbulência do mercado… 

Independentemente de qualquer fator, algo é indiscutível:

A fraca atuação no Ecommerce é algo que não dá para ser ignorado quando o assunto é abertura de capital na Bolsa de Valores Brasileira. 

Isso tudo porque o papel do Ecommerce, hoje, ganhou outra dimensão dentro do setor de varejo… As vendas online cresceram de forma avassaladora. O Ecommerce simplesmente teve a maior alta nos últimos 20 anos

Ao todo, foram criadas 1,3 milhão de novas lojas virtuais no país até o momento…

Diante disso, a pergunta que não quer calar é: a Havan ignorou todo o potencial do Ecommerce nos últimos meses ou, simplesmente, preferiu manter o foco no tradicional modelo de varejo físico?

O que aconteceu exatamente só os dirigentes e o próprio dono da Havan para informar…

Mas um fato é certo: a cada dia fica mais difícil o caminho no mundo dos negócios para as empresas que ignoram o potencial do Ecommerce. O varejo de hoje não é mais o mesmo de 5 anos atrás… Ou, até mesmo, o de 1 ano atrás. E isso é algo que não dá mais para ignorar. 

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Maria Alice Medeiros

Maria Alice Medeiros é formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Desde 2013 atua com produção de conteúdo em diversas áreas, como: Cultura, Direito, Empreendedorismo e Educação. Hoje, é Editora do Portal Ecommerce de Sucesso, e busca levar notícias e conteúdos diários para empreendedores, profissionais e investidores, sempre com uma perspectiva fundamentada e imparcial, apontando as implicações reais de cada nova informação dentro do mundo dos negócios.

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