Última atualização em 6 de novembro de 2020 por Maria Alice Medeiros

Mais um IPO (oferta pública inicial) está prestes a acontecer no mercado… A empresa da vez é o Grupo Soma, líder no mercado de varejo de moda feminina e que, recentemente, anunciou abertura de seu capital na Bolsa de Valores do Brasil (B3).

Essa não é a primeira vez que a companhia demonstra interesse em fazer oferta pública de ações. Em fevereiro, foi pedido pela primeira vez o registro para realizar o IPO, mas o plano inicial logo foi deixado de lado por causa da pandemia do novo coronavírus e todas as incertezas a respeito da crise…

Agora, o Grupo Soma – dono de marcas como Farm, Fábula, Foxton, Animale, FYI, A.Brand, Cris Barros e OFF Premium – retornou à ideia e a expectativa de retorno com o IPO é na casa do bilhão…

Ao longo deste artigo, vou te explicar como será o IPO da empresa e se vale a pena fazer esse investimento…

Contudo, antes de entrar em mais detalhes sobre a iniciativa do Grupo Soma de abrir seu capital no mercado, é importante que você saiba que é IPO e como o procedimento funciona.

O que é IPO e por que as empresas adotam essa estratégia?

IPO é a sigla para Initial Public Offering (em português: Oferta Pública Inicial). Como o próprio nome já indica, o IPO é quando uma empresa decide vender suas ações (ou parte delas) para o público pela primeira vez. 

A iniciativa também é conhecida como abertura de capital…

Ou seja: quando a companhia passa a ser capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de Valores.

Essa estratégia costuma ser adotada com um principal objetivo: captar recursos para realizar investimentos e promover o crescimento do negócio…

Neste cenário, a empresa que faz o IPO deixa de pertencer exclusivamente a um grupo limitado de acionistas e passa a ter sócios anônimos de diversas partes do país e do mundo, sendo classificada como uma Sociedade Anônima de Capital Aberto. 

E é exatamente a iniciativa que o Grupo Soma está propondo… 

Como líder no varejo de vestuário feminino, a empresa vai abrir o capital e dar oportunidades para quem vislumbra comprar algumas de suas ações, como veremos mais adiante…

Como será o IPO do Grupo Soma

O Grupo Soma vai realizar sua Oferta Pública Inicial (IPO) no dia 31 de julho.

Após o registro para a abertura de capital, feito no dia 10 de julho, as ações do Grupo Soma foram listadas no segmento Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), com o código GSOM3…

A faixa de preço por ação estimada pela companhia é de R$ 8,80 e R$ 11,00, sendo o preço médio de R$ 9,90.

Considerando o valor médio, a companhia busca captar aproximadamente R$ 1,35 bilhão e estreará com um valor de mercado de R$ 4,72 bilhões…

E, de acordo com o prospecto apresentado pela empresa, o IPO consistirá, inicialmente, os seguintes dados:

• Distribuição pública e primária de 136.363.636 novas ações ordinárias de emissão;
• Representatividade de 28,58% do capital social total da empresa;
• E um total das ações é de 477.141.524 papéis.

A operação também prevê a negociação de lotes suplementar e adicional em favor de coordenadores da oferta e para investidores…

Mas isso acontecerá apenas se houver excesso de demanda, podendo elevar o número de papéis em até 35%. 

Se isso acontecer, o grupo Soma poderá angariar em torno de R$ 2 bilhões na oferta inicial.

O período de reserva do IPO será de 15 a 27 de julho, e a definição do preço acontecerá no dia 29 de julho.

Um ponto importante é que a operação também prevê um período de lock-up de 45 dias para a oferta do setor varejo e de 90 dias para o segmento private.

São muitas datas e detalhes, claro. Mas o ponto essencial para tudo isso acontecer está ligado às motivações da empresa em adotar o IPO… 

Por que essa foi a escolha do Grupo Soma?

Por que o Grupo de Moda Soma optou pelo IPO?

Como mencionamos anteriormente, uma das principais razões que levam às empresas a adotarem o IPO é crescimento dos negócios. 

Com o Grupo Soma de Moda, esta realidade não poderia ser diferente…

Então, após a aquisição do valor almejado pelo IPO, a empresa pretende expandir áreas específicas de suas atividades… Mais precisamente:

• Aquisição de novas marcas;
• Pagamento de dividendos referentes a exercícios sociais anteriores;
• Amortização ou liquidação – conforme o caso – de dívidas;
• Investimentos em tecnologia e Omnichannel;
• Abertura de novas lojas físicas e modernização e retrofit de suas lojas atuais. 

Vale a pena investir nas ações do Grupo Soma?

Quem acompanha o mercado financeiro – mesmo sem investir na bolsa -, sabe bem o como os itens citados acima são fatores que devem ser levados em consideração na hora de comprar ações…

Cada aspecto da empresa deve ser levado em conta, desde seu faturamento anual até o posicionamento de marca frente ao público, etc.

Considerando isso, alguns trouxemos alguns pontos que deve avaliar na hora de decidir se vale a pena ou não investir nas ações do Grupo Soma:

Hoje, 70% do faturamento da empresa está concentrado em suas marcas principais, a Farm e a Animale, o que pode significar dependência…

Mesmo assim, nos últimos meses de pandemia, o Grupo Soma teve um rendimento superior aos da concorrência. Mais precisamente de duas: A Restoque (dona das marcas, como Le Lis Blanc, Bo.Bô, John John e outras) e a Inbrands (detentora da Richards, Ellus e VR) – duas empresas que passam por sérias dificuldades financeiras.

E, ao longo dos últimos anos, a receita bruta do Grupo Soma multiplicou…

O gráfico abaixo mostra bem isso:

No cenário pandêmico, o Grupo Soma se mostrou relativamente estável e lucrativo… 

E muito desse bom desempenho pode ser atribuído à assertividade das coleções, ao maior conhecimento do público e ao forte investimento em vendas digitais. 

O que os especialistas estão falando sobre isso?

De acordo com o relatório elaborado pelo Suno, site especialista em análises sobre o mercado financeiro, existem vantagens competitivas e, ao mesmo tempo, fatores de riscos em relação às ações do Grupo Soma…

Vamos elencar alguns desses pontos a seguir:

Vantagens

O histórico de resultados da companhia de 2017 até 2019 é positivo, contando com a evolução tanto do top line (Receita), quanto do bottom line (Lucro Líquido). 

O gráfico abaixo mostra isso:

O crescimento da receita foi, em média, de 8,5% nos três anos, bem acima da inflação…

Outro ponto a ser visto é ROIC (Retorno Sobre o Capital Investido) da companhia, que se manteve em um patamar saudável nesses últimos três anos:

Aliás, este um dos indicadores de destaque da companhia… A média dos três anos do ROIC do Grupo Soma foi de 22,03%, enquanto este indicador para empresas comparáveis listadas hoje na B3 foi de apenas 12,5% em 2019. 

A Lojas Renner, por exemplo, que é a empresa de destaque no segmento de varejo de moda, obteve um ROIC de 16,5% em 2019. Ou seja, bem abaixo dos 23,6% reportados pelo Grupo Soma…

O que representa Riscos…

De acordo com o relatório, apesar dos bons resultados, existem fatores de risco:

• Poder de compra: todas as empresas desse segmento dependem do poder de compra dos clientes. E, diante dos ciclos econômicos desfavoráveis, a população tende a priorizar a aquisição de bens essenciais, não priorizando artigos de moda;

• Vendas em shoppings: o Grupo Soma investe no Ecommerce, porém as vendas em lojas físicas ainda apresentam resultados superiores… Diante da pandemia, este cenário fica um mais complexo, já que houve uma forte queda no fluxo de clientes e de vendas nos Shoppings.

Para te ajudar a entender em mais detalhes sobre isso, indicamos a leitura do artigo: Fechamento de Lojas Físicas Traz Toda Atenção ao Comércio Digital.

• Legislação: O grupo recebe incentivos da Lei Estadual da Moda no Estado do Rio de Janeiro. Em seu prospecto recentemente divulgado, o Grupo Soma afirma:

“No período de três meses findo em 31 de março de 2020 e nos exercícios encerrados em 31 de dezembro de 2019 e 2018, os valores referentes ao benefício fiscal de ICMS gerados pela Lei Estadual da Moda no Estado do Rio de Janeiro afetaram positivamente a receita líquida da Cidade Maravilhosa em R$ 26,1 milhões, R$ 122,0 milhões e R$ 103,7 milhões, respectivamente”. 

Sendo assim, é importante ter em mente que quaisquer movimentações que possam afetar itens da lei não dependem da companhia… 

Isto é: caso algo seja mudado na legislação, há o efetivo risco de o desempenho da empresa no mercado ser afetado.

Investir ou não investir: eis a questão

Fica nítida a necessidade de se avaliar com calma cada ponto referente à entrada do Grupo Soma para a Bolsa de Valores do Brasil…

Neste artigo, ressaltamos alguns pontos relevantes, mas, quando falamos em investir em ações na Bolsa de Valores, existem outros tantos elementos a serem considerados… 

Em geral, não podemos deixar de dizer que o histórico de resultados da companhia e de suas perspectivas futuras parecem ser animadores. Contudo, é válido ficar atento ao preço das ações. Este ainda é um fator essencial na hora de se definir a compra ou não das ações…

Entrar em um IPO independentemente do preço estabelecido por ser arriscado e aponta uma confiança em excesso na execução das futuras aquisições, principalmente quando não há existência de margem de segurança.