Última atualização em 6 de novembro de 2020 por Maria Alice Medeiros
Nem Magalu, nem Mercado Livre… A liderança do ranking do Ibovespa na segunda-feira foi da Via Varejo, após a divulgação de dados de crescimento nas vendas online. No relatório apresentado, houve aumento de mais de 2000% em vendas de determinados setores, o que gerou animação no mercado de investimentos.
A consequência disso foi a imediata: a cotação na bolsa de valores das ações da Via Varejo subiram de 2,5% na mesma hora…
E não parou até o final do dia!
No entanto, o que parece ótimo para quem tem ações da empresa pode trazer problemas para a companhia. Acontece que a divulgação desses dados pode não estar de acordo com as regras do mercado brasileiro de capitais…
E, como consequência, a empresa deve ser investigada pela Comissão de Valores Mobiliários…
Ao longo deste artigo, vou te explicar em detalhes os efeitos da divulgação desses dados e as possíveis consequências disso tudo para a empresa e também para o mercado.
Relatório Preliminar de vendas na Via Varejo
Não é todo dia que dados confidenciais sobre o desempenho de vendas de grandes empresas são veiculados por engano…
Na madrugada da última segunda-feira (20), o Twitter oficial da Via Varejo publicou 6 tweets com informações confidenciais sobre o volume de vendas em determinados setores.
Entre os citados, a venda de eletrônicos teve destaque, com avanços de até 2.500% em maio e junho, em comparação com o mesmo período de 2019…
Além desse setor, outros também apareceram:
- Televisores (1.900%);
- Equipamentos de som (1.500%);
- Itens de informática e de escritório (1.400%);
- Fornos e fogões (750%);
- Refrigeradores e lavadoras (300%).
O assunto rapidamente tomou grandes proporções na internet, chamando a atenção de todo o mercado financeiro do país.
As ações via varejo, sob o ticker VVAR3, abriram o mesmo dia em alta, subindo cerca de 2,5% por volta das 10h30.
E o ativo ganhou mais força ao longo do dia…
Para você ter uma ideia, os papéis da Via Varejo renovaram a máxima histórica de cotação, fechando em R$ 21,17, com uma valorização de 7,35%, liderando o ranking de altas do Ibovespa.
A imagem abaixo mostra bem o comportamento da cotação da Via Varejo…
O números são animadores tanto para vendedores (conforme vou mostrar nos próximos tópicos), quanto para investidores que tinham ações da companhia.
No entanto, a divulgação desses dados não poderia ter sido feita, já que esse tipo de informação só pode ser veiculada em redes sociais após divulgações oficiais, o que ainda não aconteceu.
Por conta disso, a empresa deve prestar esclarecimento o quanto antes sobre o ocorrido…
Defesa da Via Varejo
No mesmo dia em que os dados foram divulgados, a companhia solicitou a retirada imediata das mensagens publicadas na rede social…
Em justificava à imprensa, a Via Varejo afirmou:
“Não é política da companhia divulgar este tipo de informação, razão pela qual tão logo seu departamento de Relações com Investidores tomou conhecimento da publicação, solicitou prontamente que a mesma fosse retirada do ar, o que ocorreu às 12h55 da tarde”.
Agora, a preocupação da empresa com relação à garantia da igualdade das informações diante do mercado – preceito que teria sido ferido ao divulgar as informações. Diante disso, precisa comprovar que não agiu de má fé para prejudicar as concorrentes…
Assim, para assegurar a disseminação isonômica de informações corretas aos seus acionistas e ao mercado em geral, a Via Varejo apresentou as seguintes informações:
A companhia também afirma que as informações citadas no quadro acima são gerenciais e não auditadas… E reforça:
“A administração da Via Varejo reitera seu compromisso de transparência com o mercado em geral e tomará as providências necessárias para evitar qualquer divulgação de dados de forma distinta daquela aprovada em sua política de divulgação”.
CVM fará apuração dos fatos
Como a divulgação pode não estar de acordo com as regras do mercado brasileiro de capital, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo para averiguar a divulgação das informações postadas no Twitter da Via Varejo.
O motivo é que as informações sobre as vendas da Via Varejo foram fornecidas ao público sem levar em conta a equivalência na divulgação de dados das empresas do setor…
E isso, obviamente, poderá acarretar consequências para a Via Varejo…
De acordo com o órgão regulador “Aplicam-se às divulgações realizadas em mídias sociais as mesmas regras previstas nas normas que tratam da divulgação de informações, notadamente as que disciplinam a divulgação de informações relevantes e estabelecem regras gerais sobre conteúdo e forma das informações que os emissores devem observar”.
O que esperar de todo esse cenário?
É importante frisar que a empresa está em ascensão há algum tempo, desde o início da nova gestão da família Klein, fundadora das Casas Bahia.
Nos últimos dez anos, a empresa esteve sob controle do Grupo Pão de Açúcar, até que Michael Klein, filho do fundador, Samuel Klein, comprou a participação do grupo e voltou a ser o principal acionista…
Hoje, junto com a família, Michael detém 28% da empresa. O XP Asset Management possui cerca de 8% das ações, e o restante está pulverizado…
O fato é que se os dados divulgados forem realmente verdadeiros, tudo indica que a Via Varejo acelerou no segundo trimestre, destacando-se fortemente de seus concorrentes nesse período…
E isso inclui a Amazon, gigante do setor que, recentemente, registrou um salto de 5,7% na bolsa de valores, ultrapassando US$ 3 mil por ação e marcando um recorde histórico…
Contudo, o balanço do resultado referente ao exercício no segundo trimestre deste ano da Via Varejo está previsto para ser publicado oficialmente no dia 12 de agosto…
Só com a publicação deste conteúdo é que será possível confirmar se ambos os dados (os publicados pelo Twitter e os divulgados posteriormente pela empresa) são verídicos ou não…
Então, até lá, será preciso acompanhar as notícias para entender seus possíveis desdobramentos.